(Avaliação) GWM Haval H6 HEV é uma grata surpresa como SUV híbrido

Que a indústria automotiva chinesa não está para brincadeiras, isso é certo. Mas, enquanto algumas fabricantes lá das terras da Grande Muralha são mais polêmicas e ousadas, outras caminham de forma discreta e contínua. Prometem bons carros, cumprem a tal promessa, convencem o público, agradam os clientes e seguem em crescimento. A GWM é uma com essa fórmula, especialmente com os SUVs Haval, que já tem quase uma linha própria dentro da marca (modelos HEV, PHEV e GT). 

E foi esse primeiro, HEV, híbrido convencional, que nos fez companhia por cinco dias e mais de 720 km. Uma grata surpresa, ainda mais considerando seu preço interessante de R$214 mil, ou praticamente o mesmo cobrado por um Toyota Corolla Cross híbrido, menor, ou um Ford Territory, só a gasolina. É um carro que já têm se tornado figurinha comum nas ruas das capitais brasileiras, mas, como é discreto, acaba não se destacando na multidão (a não ser que seja pintado numa cor bonita como o vermelho cereja metálico do carro avaliado). Um fato é que, cara de chinês ele não tem. A maioria pensa ser europeu.  

Maior que Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, ele é um típico utilitário familiar, daqueles com bastante conforto, praticidade, ergonomia e espaço interno. A motorização mista é eficiente, e, assim como no Toyota, não permite recarga externa: é híbrido convencional. Um compacto motor 1.5 turbo com injeção direta de gasolina e operação no ciclo Miller entra em funcionamento nos momentos em que se exige mais força do conjunto, compartilhando a operação com o motor elétrico. Tudo é dianteiro, “puxando” o carro com a ajuda da transmissão automatizada de duas marchas: a primeira é urbana, com relação mais curta, e a segunda, alongada, serve para as maiores velocidades das rodovias. 

Quem conhece a operação de um carro híbrido, entende como isso tudo funciona. O Haval ainda tem a vantagem de o motor elétrico ser forte o suficiente para que o carro arranque, ganhe velocidade e até encare subidas leves sem queimar gasolina, mesmo quando está cheio. O motor a gasolina entra em cena de forma rápida e discreta na hora que as baterias de 1,6 kWh perdem carga (geralmente, abaixo de 50%), ou quando se pede mais força. O segundo caso é raro: é muito mais comum a carga das baterias se esgotarem, forçando a partida do 1.5 16v como gerador.  

Ainda assim, o 1.5 é um ótimo nessa função, e quase sempre está enviando energia para as baterias. Com isso, o motor elétrico trabalha constantemente ajudando o propulsor a gasolina: fórmula ideal para o bom desempenho, economia, suavidade e eficiência. Dá para acompanhar tudo pelo diagrama do painel de instrumentos digital e pela luz verde que se acende sempre que o carro está rodando como um 100% elétrico. Pelo ouvido é difícil perceber a transição entre combustão e eletricidade, já que o silêncio impera nas baixas e médias velocidades, sem trancos. 

A força e potência combinada dos dois motores fazem do Haval um carro ágil e esperto, e, no 0 a 100 km/h, o SUV médio consegue ser tão rápido quanto um hatch esportivo, como VW Polo GTS. Em contrapartida, gasta tanto quanto um 1.0, graças ao menor esforço do motor a combustão. É bom poder contar com o tanque de gasolina de tamanho razoável, que pode render mais de 1.000 km sem reabastecer no caso de uso urbano.  

Em nossos testes, foi possível chegar a 18,0 km/l na cidade e 13,5 km/l na estrada, sem abrir mão do ar-condicionado, aproveitando o modo Eco e recuperando o máximo de energia nas frenagens e desacelerações. Numa situação de quatro a bordo mais bagagens, os números indicados no painel de instrumentos digital foram de cerca de 15,5 km/l e 11,8 km/l, na ordem. No final do teste, passados 724 km (65% deles na estrada), o carro ainda acusava mais de 150 km de alcance. O Haval, aliás, é um dos poucos híbridos convencionais do mercado nacional com One Pedal, que permite guiar apenas variando a pressão no pedal do acelerador, sem usar o freio. No quesito eficiência energética, nota dez! 

Porém, especialmente na estrada, acima dos 1.800 ou 2.000 rpm, o ruído do motor a combustão começa invadir a cabine. A relação longa da segunda marcha, que o faz girar a apenas 2.100 rpm a 100 km/h, não é culpada: parece faltar mesmo algum reforço extra nas mantas acústicas que isolam o som do 1.5 lá no cofre.  

Aliás, no quesito “sonoro”, esse GWM merecia mais duas melhorias. Uma no sistema de som, de qualidade inferior ao restante do carro, e outra na sonorização de alguns alertas e sinais que ele emite no uso comum: desde a longa música de boas-vindas, o incomum som “esportivo” quando se engata Drive no seletor de marchas, bipes da mudança de informações do computador de bordo, ou o alto volume dos avisos dos assistentes de condução. Ao menos, pela intuitiva multimídia, dá para desativar e regular outras coisas, como as várias ajudas ao condutor durante o uso. Há um belíssimo pacote ADAS de série, inclusive.  

No geral, é um SUV com muitas das virtudes esperadas para o segmento: tem baixíssima torção do monobloco, graças a moderna plataforma modular; conta com grandes portas e janelas que beneficiam o entra e sai e a habitabilidade; um verdadeiro latifúndio de espaço traseiro, quer seja para as pernas, cabeça ou ombros; porta-malas com tampa elétrica maior que o de praticamente todos os concorrentes; e uma prática vida a bordo (assoalho totalmente plano, inúmeros porta-trecos etc.).  

O espaço interno é mais do que confortável para quatro adultos e uma criança, e a praticidade fala mais alto (Foto: Lucca Mendonça)

A GWM também acertou o melhor de dois mundos. O acabamento do H6, por exemplo, é esmerado e caprichado como pede o público chinês, mas sem cafonices ou penduricalhos coloridos. Também é tudo fácil de operar e descomplicado para mexer nele, como pede um consumidor ocidental. Com diversos ajustes elétricos do confortável banco do motorista e volante (mais o acerto do peso da direção elétrica em três níveis), encontrar uma posição boa de guiar é tarefa fácil.  

A dirigibilidade aqui é típica de um utilitário, com segurança e bom comportamento nas curvas rápidas, mas com pouco DNA esportivo. Para correr e ter mais prazer ao volante, a GWM oferece o SUV coupé GT, com tração integral, suspensões durinhas e por aí vai. O acerto das molas e amortecedores desse HEV é dedicado ao mercado brasileiro e ao nosso piso complicado, e é correto na absorção dos impactos e maciez. O carro avaliado, com pouco mais de 15 mil km rodados, já fazia algum barulho ao passar pela buraqueira, mas, no geral, o conjunto parece ser robusto. Cai bem em um modelo alto com bons ângulos de ataque e saída. 

560 litros de porta-malas: um dos maiores da categoria, sem dúvidas (Foto: Lucca Mendonça)

O que também convence são as muitas tecnologias de série, incluindo algumas bacanas como a função de reverter sozinho balizas complicadas, ou as projeções do trânsito a sua volta no painel de instrumentos (como nos Tesla), sem contar a variedade de itens de conforto, conveniência e segurança a bordo. Alguns itens, inclusive, nenhum outro rival da categoria oferece, muito menos por esse preço logo acima dos R$200 mil.  

Dizer que ele é o melhor híbrido convencional do mercado nacional talvez seja um pouco exagerado, mas, levando em conta a atraente relação custo X benefício, e o que a concorrência anda oferecendo nessa faixa de preço (carros menores e não tão recheados), sem contar as virtudes de um bom projeto, uma coisa é certa: se você estiver em busca de um SUV médio desse porte e preço, o Haval H6 HEV precisa estar na sua lista de pretendentes. Ele pode te convencer antes da voltinha no test-drive… 

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.499 cm³, gasolina, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio + motor elétrico dianteiro e conjunto motor de arranque/alternador. Baterias de íon-lítio com 1,6 kWh de capacidade
Transmissão: automatizada monoembreagem com duas velocidades
Potência combinada: 243 cv
Torque: 54 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, multilink, com barra estabilizadora
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Hankook Ventus S1 Evo3 SUV, medidas 225/55 e rodas de liga-leve aro 19
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,68 m/1,89 m/1,73 m/2,74 m
Porta-malas: 560 litros
Tanque de combustível: 60 litros
Peso em ordem de marcha: 1.699 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,9 segundos
Velocidade máxima: 175 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$214.000

Itens de série:

Tampa do porta-malas com abertura e fechamento automáticos e sistema “free-hands”, Abertura elétrica da tampa de abastecimento, Sensor de chuva, Antena tipo “shark”, Teto solar panorâmico elétrico, Retrovisores externos rebatimento elétrico e luzes de posição, Acabamento interno em “blackpiano, Bancos revestidos em couro ecológico, Bancos dianteiros com ajuste elétrico e ventilação, Volante multifuncional revestido em couro, Coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, Apoia-braço frontal revestido em couro ecológico, Porta-copos na parte frontal e no banco traseiro, Bancos traseiros rebatíveis (60/40), Quatro modos de condução, três níveis de peso da direção (Conforto/Normal/Esportivo), Retrovisor interno antiofuscante automático, Abertura e fechamento das janelas com função “one-touch” e antiesmagamento, Fechamento das janelas por meio do controle remoto, Vidros com função de descongelamento, ArCondicionado digital automático “dual zone”, Saídas de ventilação para os bancos traseiros, Purificador de ar ionizado integrado, Função de antiembaçamento do para-brisa, 6 airbags, Aviso de obrigatoriedade do uso de cinto de segurança para todos os ocupantes, Sistema de fixação de cadeira infantil, ABS + EBD (distribuição eletrônica de frenagem), TCS (Sistema de controle de tração), SCM (Second Colision Mitigation), Brake Assist – regula a pressão no pedal do freio, Hill descent control – assistente de descida de ladeira, Hill start assist – assistente de partida em rampas, 12 sensores de estacionamento (dianteiros + traseiros), 5 câmeras, Frenagem autônomas de emergência para baixas velocidades, Câmera 360º com função capô invisível, ACC (mantém a velocidade configurado ou do carro a frente), Alerta e frenagem de emergência autônoma, Alerta e frenagem de emergência de tráfego cruzado, Alerta e assistente ativo de manutenção e centralização de faixa, Alerta e frenagem autônoma de tráfego cruzado enquanto o carro está na marcha à ré, Desvio inteligente –afasta o carro durante ultrapassagem de caminhões em até 30cm, Smartkey – liga, desliga, abre e fecha o veículo apenas com proximidade da chave, Alarme antifurto, Fechamento automático das portas programável (15 ou 30 km/h), Destravamento automático das portas em caso de acidente, Chave com função pânico (dispara a buzina), Conectividade com Apple CarPlay e Android Auto sem fio, Wi-fi 4G com função hotspot a bordo, 8 alto-falantes (4 alto-falantes + 4 “tweeters”), App GWM permite diversas funções remotas, Tela de multimídia de 12,3 polegadas, Carregamento de celular por indução de 15W, Painel de instrumentos com tela de LCD de 10,25 polegadas, Tecnologia Auto Reverse – refaz manobras em até 50 metros, Head-up Display

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.