VW Sedan 1600 “Zé do Caixão”: o pioneiro sedan de 4 portas com base de Fusca

Apresentado no final de novembro de 1968, com início das vendas em meados de janeiro de 1969, o Sedan 1600 foi o primeiro modelo de uma nova família de carros VW. Usando a base do VW Sedan, conhecido popularmente como Fusca (nome que só seria oficial em 1984), ele trazia linhas modernas e muita comodidade. Era um sedan legítimo, inclusive com as quatro portas, com porta-malas na dianteira e o motor, refrigerado a ar, na traseira. Foi, aliás, o primeiro Volkswagen com quatro portas vendido no mercado brasileiro e, por pouco, no mundo inteiro. Perdeu o pioneirosmo ainda maior para o Type 4 411, que debutou três meses antes na Alemanha. 

Logo foi apelidado de “Zé do Caixão” pelo grande público, por conta das suas maçanetas que lembravam alças de caixões e forma mais quadrada da carroceria, em compasso com os lançamentos mais recentes do mercado nacional dos anos 60. O Sedan 1600 utilizava chassi igual ao dos Fusca 1300, com algumas diferenças nos pontos de fixação da carroceria e adequação dos componentes. Querendo ou não, um pioneirismo: hoje, é muito comum o aproveitamento de plataformas iguais em carros diferentes, reduzindo custos e facilitando o desenvolvimento de novos modelos. Nesse caso, ele trazia os mesmos predicados do Fusca 1300, como a robustez e facilidade de manutenção, mais o espaço interno ampliado e a praticidade das portas traseiras. 

Sob o capô traseiro estava, de certa forma, o mesmo motor do Fusca 1300, apenas com troca dos kits de cilindros. A cilindrada subia para 1600, elevando a potência para 60 cv SAE a 4600 rpm e 12 kgfm de torque a 2600 rpm, graças também a carburação simples (Solex H30). Com a transmissão padrão de quatro marchas, o Sedan 1600 era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em cerca de 22,8s, atingindo oficialmente os 135 km/h de velocidade máxima, números bastante aceitáveis para àquele tempo. Famoso pelo torque antecipado, o carro não era muito econômico, fazendo médias entre 6,5 km/l na cidade e 9,5 km/l na estrada com gasolina. 

A manutenção do propulsor, para os tempos modernos, pode ser considerada peculiar: as trocas de óleo eram mais frequentes, recomendadas pela fabricante a cada 2.500 km, com verificação do nível a cada 1.250 km. Isso se devia ao fato de, naquele tempo, o Sedan 1600 ainda não possuir filtro de óleo, ao passo que a troca do filtro de ar do motor seguia o mesmo cronograma da troca de óleo: a cada 2.500 km. A transmissão também precisava ter seu lubrificante substituído de tempos em tempos, a cada 12.500 km, enquanto fluídos da suspensão deveriam ser trocados a cada 10.000 km. Acredite caro leitor, a maioria dos proprietários seguiam esses prazos à risca, bem diferente da situação atual, onde muitos se esquecem até mesmo das trocas de óleo a cada 10.000 km.  

Por dentro, uma receita nova se comparada a do Fusca. Seus bancos dianteiros traziam regulagens de distância do assento e do encosto (sim, algo destacável para a época), permitindo maior controle do veículo, enquanto o volante, mesmo do 1300, tinha bom raio de curvatura, apesar de grande. A pedaleira era deslocada à direita, como a maioria da linha VW até hoje, proporcionando viagens incômodas dependendo do biotipo do motorista. Apesar disso, um destaque do Sedan 1600 que ninguém podia discordar era sua ampla área envidraçada, tão boa quanto a de modelos atuais: vantagem das quatro portas e do teto alto. Só não superava o DKW Fissore, modelo praticamente sem pontos cegos, descontinuado um ano antes. 

Atrás, acomodava três pessoas com relativo aperto, afinal, não havia milagres, já que seu entre-eixos era quase o mesmo do “Fusquinha”: 2,45 m, não muito maior que os 2,40 do 1300. Porém, as quatro portas garantiam acesso fácil, e tinham bom ângulo de abertura. Apesar do painel bonito, com direito a apliques imitando madeira, a instrumentação oferecia o mínimo necessário, com velocímetro marcando até 160 km/h, hodômetro total até 99.999 km, luzes-espia, marcador de nível de combustível e, opcionalmente, relógio.

Para a época, o Sedan 1600 era considerado silencioso, mesmo em altas velocidades, com forração acústica de qualidade. Agradava também pelos faróis grandes e retangulares, que posteriormente serviram à perua Variant, garantindo boa iluminação nas escuras estradas do Brasil daquele tempo. Como ponto negativo, eram constantes as reclamações quanto a ausência de um local para rádio, obrigando que seus proprietários improvisassem na instalação do aparelho: muitas lojas de acessórios desenvolveram suportes, no painel ou console, próprios para isso.

No decorrer de 1969 foi lançada a versão station wagon Variant, com o famoso “motor plano” e porta-malas duplo. Seus comerciais ressaltavam esta vantagem, com capacidade de armazenamento de 701 litros, sendo 434 na traseira e 267 na dianteira. Nesse meio tempo, o Sedan 1600 sofria com números de vendas muito abaixo do esperado, e, antes de substituição, a Volkswagen ainda criou uma versão de luxo para ele, batizada de 1600L e lançada em junho daquele ano. Era cerca de 12% mais cara que a versão convencional, chamada de Standard, e se diferenciava já pela carroceria com a possibilidade de pintura em dois tons. Por dentro, forração em couro, melhor nível de acabamento e equipamentos exclusivos, como rádio e o já citado relógio no painel. 

Ele era cerca de 12% mais caro que a versão Standard, e tentava animar as vendas do Sedan 1600 (Foto: VW/divulgação)

A família Type 2, estreada pelo Zé do Caixão, se completou meses depois, ainda em 1969, com a chegada do TL (Turismo Luxo) que, com suas linhas elegantes, esportivas e fluídas, logo caiu nas graças dos consumidores. Na prática, seria a nova aposta da VW na categoria, dada a tímida presença de mercado do Sedan 1600. Tanto que, pouco tempo depois, o TL já ganhava a sua carroceria com quatro portas.  

O Sedan 1600, apesar de eficiente, nunca fez o sucesso esperado em um mercado que, naquela época, valorizava as carrocerias com duas portas, que tinham aspecto mais esportivo. Nem mesmo a maioria dos taxistas se renderam ao modelo, já que a concorrência tinha produtos mais modernos como GM Opala e Ford Corcel, lançados na mesma época. A primeira “baixa” foi da versão L, mais luxuosa, que se despedia meses após seu lançamento, já no início de 1970. Logo depois, para uma adequação da linha, ele ainda chegou a receber os quatro faróis circulares do TL no modelo 1971, junto da mudança de alguns frisos e acabamentos na carroceria.  

A última tentativa da VW foi a nova frente, mais bonita e próxima a do TL: não deu certo, e meses depois o Sedan saiu de linha (Foto: VW/divulgação)

Mesmo de “cara nova” (o capô também mudava), o Sedan 1600 finalmente saia de linha em janeiro de 1971 após apenas 24.475 unidades fabricadas. A Volkswagen, sem muito atraso, logo lançava seu substituto, o TL 4 portas, na linha 1972, outra história que você pode ler clicando aqui. Apesar de nunca ter conquistado o consumidor, o Sedan 1600 marcou história com bons pioneirismos, alguns quase mundiais

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.